PLAYLIST CURADORIA MCB: PAULO SERAU
Foto: Kriz Knack
A nova playlist apresenta o trabalho de arranjadores que foram peças fundamentais para construção da música brasileira
O convidado para a 5ª edição da playlist “Curadoria MCB” é o músico, compositor, pesquisador e arranjador Paulo Serau. A lista organizada por Serau é dedicada aos arranjadores da música brasileira.
A playlist
Músico Autodidata, Paulo Serau estabeleceu a partir da sua escuta atenta grande parte do aprendizado musical. Com a arte do arranjo não foi diferente. Dedicou-se a pesquisar os arranjadores da música popular brasileira e identificar cada uma das suas qualidades e características para amadurecer no seu ofício. Para esta curadoria especialmente feita para o MCB, Serau selecionou o trabalho de arranjadores que foram peças fundamentais para construção da música brasileira. Estão presentes nesta playlist arranjos de Pixinguinha, Radamés Gnattali, Leo Peracchi, Tom Jobim, Carlos Monteiro de Souza, J. T. Meirelles, Moacir Santos Julio Medaglia, Rogério Duprat, Eumir Deodato, Cesar Camargo Mariano, Laércio de Freitas, Geraldo Vespar, Nelsinho, Dori Caymmi, Lincoln Olivetti, Jota Moraes e Cristóvão Bastos – grande referência estética no estudo de Paulo Serau. Por fim o músico inclui duas canções que tiveram arranjo realizado por ele.
Sobre Paulo Serau
Serau já trabalhou com nomes como Alaíde Costa, Ângela Maria, As Galvão, Ayrton Montarroyos, Carlinhos Vergueiro, Carlos Lyra, Cauby Peixoto, Claudette Soares, Cristóvão Bastos, Elba Ramalho, Inezita Barroso, João Donato, Leci Brandão, Leny Andrade, Marcelo Jeneci, Maria Alcina, Mônica Salmaso, Sergio Santos e Zezé Motta. Já realizou a direção musical e arranjos para os projetos: “Elizeth Cardoso 100 Anos ao Vivo” (Biscoito Fino, 2020); “As Canções de Garoto” (Independente, 2019); “Canta Inezita! ” (Kuarup, 2019); “Duas Noites Para Dolores Duran” (Canal Brasil, 2015); “Cabocla Eu Sou”, de Inezita Barroso (TV Cultura, 2013), dentre outras produções. Lançou dois livros: “Choro para Big Band” (2011) e “O Choro de Luiz Gonzaga” (2013), com o prêmio Funarte Centenário de Luiz Gonzaga 2012. Além disso, contribuiu com a produção de artigos para as publicações “Direito e Cinema Brasileiro” (Lisbon International Press, 2020) e “Direito e Música Brasileira” (Lumen Júris, 2020).
O músico também realiza pesquisas sobre campo musical, sendo elas: “O papel do arranjo na música brasileira – História, Escuta e Debate” (Sesc São Paulo, 2021) e “Pixinguinha e Radamés em 78 rpm: escuta de discos de 78 rpm”, análise estética e transcrição dos arranjos de Pixinguinha e Radamés Gnattali (Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, 2019).
Lamentos – Pixinguinha e seu conjunto
Agora é Cinza – Diabos do Céu e Mario Reis
Ouvimos o “pai de todos” – o grande Pixinguinha com uma das suas obras-primas, “Lamentos”, além do arranjo de “Agora é cinza”, com uma belíssima escrita para sopros e um grande intermezzo, marca registrado em seus arranjos;
Lábios Que Beijei – Orlando Silva
Aquarela do Brasil (samba) [1939] – Francisco Alves
Outro pilar da escrita musical brasileira, Radamés Gnattali. Temos a valsa “Lábios que beijei” talvez o seu primeiro grande arranjo popular; e a escrita revolucionária para o samba-exaltação “Aquarela do Brasil”, que introduziu característicos elementos rítmicos aos sopros da orquestra e trouxe uma sofisticação estética musical brasileira;
História De Pescadores: Canção Da Partida (História Dos Pescadores I) / Adeus Da Esposa / Temporal / Cantiga De Noiva / Velório / Na Manhã Seguinte – Dorival Caymmi
O trabalho primoroso de Leo Peracchi para uma obra-prima de Caymmi. Ouvimos dentro dessa suíte elementos impressionistas na música popular, elementos de trilha sonora, paisagens sonoras e muito mais;
Canção da Volta – Antônio Carlos Jobim, Elizeth Cardoso
Chega De Saudade – João Gilberto
Dois momentos de Tom Jobim. Em “Canção da Volta” a sua escrita ainda estava imbuída da estética padrão dos sambas-canção. Em “Chega de Saudade” já temos uma evolução estética e um outro entendimento musical para criar acompanhamentos minimalistas que fizeram a cama perfeita para a interpretação revolucionária de João Gilberto;
Você Passa Eu Acho Graça Clara Nunes
Arranjo de Carlos Monteiro de Souza
Em Você passa eu acho graça uma orquestração grandiosa que misturava elementos do samba tradicional e do samba-canção com metais e cordas;
Mas, Que Nada! – Jorge Ben Jor
J. T. Meirelles apresenta nesse arranjo icônico de “Mas, que nada!”. A sonoridade característica do Samba-jazz, sub-gênero ao qual foi excelente expoente;
Insensatez – Sylvia Telles
Fica Mal Com Deus – Geraldo Vandré
Essa versão de “Insensatez” mostra o primoroso trabalho de Moacir Santos, uma escrita rica em detalhes e timbres para abraçar a interpretação moderna de Sylvia Telles. Em “Fica mal com Deus”, Moacir mostra o domínio da estética regional somada ao trabalho orquestral, é possível ouvir timbres que ele usou no consagrado álbum Coisas, como o uso das trompas, do flautim e do trompete surdinizado;
Tropicália – Caetano Veloso, Manoel Barenbein
Julio Medaglia é responsável pelo arranjo de “Tropicália”. A faixa inicia com um happening improvisado pelo baterista Dirceu, na mesma hora Julio solicita aos músicos a elaboração de sons tropicais e de floresta. É possível notar ainda elementos da música de vanguarda erudita brasileira somados à linguagem do baião no refrão;
Domingo no Parque – Gilberto Gil
Construção – Chico Buarque
Em “Domingo no parque” Rogério Duprat foi responsável por colagens sonoras e um desbunde musical vindo também da vanguarda erudita junto aos elementos da cultura popular como um desdobramento tardio do pensamento antropofágico do modernismo brasileiro. Em Construção, Duprat eleva à enésima potência o discurso sinuoso da letra de Chico Buarque, não sendo mais possível ouvir a canção descolando-a das marcantes frases e intervenções virtuosas da orquestra nesse arranjo;
The Girl From Ipanema – Antônio Carlos Jobim, Deadato
Vera Cruz – Milton Nascimento
Eumir Deodato apresenta um arranjo de “Garota de Ipanema” com variações sobre o tema, com forte influência do jazz e da contemporaneidade que o cercava, tendo um resultado tão primoroso que Tom Jobim o abraçou como versão definitiva, mesmo em reduções orquestrais. Em “Vera Cruz” o trabalho de Eumir, sempre à frente do seu tempo, abraça a nova sonoridade vinda dos compositores mineiros, com texturas e fraseados poéticos;
Sá Marina – Wilson Simonal
Águas De Março – Antônio Carlos Jobim, Elis Regina
Cesar Camargo Mariano foi dos expoentes do Samba-jazz, trabalhou com inúmeros artistas e se consolida como grande arranjador com o seu trabalho ao lado de Elis Regina. Em “Sá Marina” o seu piano é o centro de um suingue dificilmente ouvido no Brasil nessa época, nessa música destaco o trabalho característico de coro e cordas com uma aura Soul. O arranjo de “Águas de Março” é uma das suas pérolas para o consagrado disco Elis & Tom, modernizando o trabalho de Tom Jobim que de início ficou receoso;
A Rã – João Donato
Aquarela Brasileira – Elza Soares
Laércio de Freitas outro excelente pianista e compositor brasileiro, nos presenteou com essa pérola que é o arranjo de “A Rã”. Outra obra-prima da sua escrita é o arranjo definitivo que escreveu para a “Aquarela Brasileira” gravada por Elza Soares na década de 1970;
Batendo A Porta – João Nogueira
Morena De Angola – Clara Nunes
Geraldo Vespar músico que tem destaque inicial com a Bossa-nova e mais tarde se destaca na escrita musical ao lado de grandes artistas do samba, como João Nogueira, Clara Nunes, entre outros. Ouvimos dois arranjos consolidados “Batendo a porta” e “Morena de Angola”;
Linha de Passe – João Bosco
Nelsinho trombonista e diretor de várias orquestras e gravações assina esse arranjo icônico de Linha de Passe;
O Trenzinho Do Caipira (Bachianas Brasileiras Nº 2 – Tocata) – Edu Lobo
Procissão da Padroeira- Mônica Salmaso
Ouvimos dois trabalhos de Dori Caymmi, o primeiro em “O trenzinho do Caipira”, citando trechos originais de Heitor Villa-Lobos, recriando harmonias e, ao mesmo tempo, com um tempero popular incomparável; o segundo arranjo é uma obra-prima escrita para contrabaixo e cellos para a perfeita interpretação de Monica Salmaso em “Procissão da Padroeira”;
Meu Bem Meu Mal – Gal Costa
Lança Perfume – Rita Lee, Roberto De Carvalho
Lincoln Olivetti é conhecido como o Mago do pop, o maior arranjador da década de 1980 no Brasil. Criou belos arranjos com somas de texturas e timbres orgânicos e eletrônicos inconfundíveis para inúmeros artistas de todos os gêneros musicais brasileiros, como podemos ouvir em “Meu bem, meu mal” e “Lança perfume”;
Lindo Lago Do Amor – Gonzaguinha
Beija-Me – Zeca Pagodinho
Jota Moraes, exímio vibrafonista, foi outro arranjador que dominou com maestria os recursos eletrônicos de estúdio na década de 1980, exemplo máximo disso pode ser o arranjo de “Lindo lago do amor”. Como prova que na música não pode haver barreiras, escreveu também o excelente arranjo de “Beija-me”, baseado na sonoridade das big bands norte americanas e na nossa grande Orquestra Tabajara;
Papel Machê – João Bosco
Samba Do Grande Amor – Chico Buarque
Resposta Ao Tempo – Nana Caymmi
Ame, Elton Medeiros – Paulinho Da Viola
Cristóvão Bastos é um dos arranjadores mais coerente, consigo e elegante da nossa música da década de 1970 até hoje. Tudo que Cristóvão escreve tem um motivo, uma sensação, uma cor. Cristóvão é profundo conhecedor da música popular e contribuiu com sua escrita para inúmeros sucessos, como “Papel Marchê”, “Samba do Grande Amor”, “Resposta ao tempo” e “Ame”;
Dor de Saudade – Hilda Maria
Duas Contas – Grande Banda, Paulo Serau, Sergio Santos
Arranjos por Paulo Serau
Ouvimos a bossa contemporânea “Dor de Saudade” composta por Hilda Maria e Luciano Ruas. Em “Duas Contas”, obra-prima de Garoto, ouvimos uma elaborada sonoridade contemporânea de big band acompanhando o cantor Sergio Santos.
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