Uma outra cidade
A exposição apresenta 50 fotografias produzidas por Iatã Cannabrava nas periferias de São Paulo, Lima, Caracas, La Paz, México, Buenos Aires, Montevidéu e Belém, entre 2000 e 2009. O conjunto de fotos, que será publicado numa edição conjunta do MCB, Imprensa Oficial e Editora Terceiro Nome, se aproxima muito mais de uma crônica poética e política do que da tradicional denúncia de pobreza e miséria. Utilizando a fotografia colorida como suporte, Iatã constrói o retrato de uma “outra cidade” comum a estes países e construída, na ausência do Estado e de qualquer planejamento, pela força do saber e da criatividade popular com seus meios de driblar a exclusão.
“Quando comecei a fotografar as periferias da Zona Sul de São Paulo, no ano 2000 – quase uma década atrás –, a frase ‘E nós estamos sós, Ninguém quer ouvir a nossa voz’, do grupo de rap Racionais MC’S, filhos e habitantes do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, era certamente verdadeira”, diz Iatã Cannabrava. “A exclusão social incorporava em muitas cidades uma invisibilidade social, não era só a voz da periferia que estava sem ouvidos, o mundo também se cegava diante da realidade de que uma outra forma de agrupação social, distinta dos modelos de cidades pensados até então, estava sendo construída sem ou praticamente sem a presença do Estado”.
Segundo Iatã Cannabrava, quase sempre que se fala das favelas, morros e quebradas no Brasil, das villas em Lima, no Peru, dos cerros em Caracas ou das tantas outras denominações dadas para as periferias do continente latino-americano – por onde ele fotografou nos últimos anos – se fala em problemáticas sociais. Ele cita o poeta e músico Bezerra da Silva, que imortalizou ironicamente esse pré-estabelecido conceito na letra Eu Sou Favela, gravada em 1992: A favela é, um problema social/Sim mas eu sou favela/Posso falar de cadeira/Minha gente é trabalhadeira/Nunca teve assistência social/Ela só vive lá/Porque para o pobre, não tem outro jeito/Apenas só tem o direito/A um salário de fome e uma vida normal.
“Observador atento e curioso, Iatã Cannabrava registrou o acúmulo dos diferentes materiais e das diferentes formas que se organizam aleatoriamente nesse espaço de tensão contínua, para evidenciar os modos populares de esconder e mostrar as evidências”, escreveu Rubens Fernandes Junior, pesquisador e crítico de fotografia. “Um trabalho corajoso que evidencia as fragilidades de nosso sistema sócio-econômico através de imagens silenciosas que vêm formando um conjunto altamente explosivo e com densidade política e estética.”
Fotógrafo, curador e agitador cultural, Iatã Cannabrava participou de mais de 40 exposições. Ganhou os prêmios P/B da Quadrienal de Fotografia de São Paulo, em 1985, o concurso Marc Ferrez da Funarte, em 1987, e dois prêmios da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 1996 e 2006. Suas fotografias foram publicadas em diversos livros e nas coleções Masp-Pirelli, Galeria Fotoptica, Coleção Joaquim Paiva e MAM/São Paulo. Como agitador cultural, foi presidente da União dos Fotógrafos de São Paulo de 1989 a 1994, criou e dirige a empresa Estúdio Madalena, onde organizou mais de 30 exposições e ministrou mais de 80 workshops, além de projetos especiais, como Revele o Tietê que Você Vê, em 1991; Foto São Paulo, em 2001; Povos de São Paulo – Uma Centena de Olhares sobre a Cidade Antropofágica, em 2004, e a Expedição Cívica, Ecológica e Fotográfica De Olho nos Mananciais, em 2008. É responsável pela coordenação da programação do Festival Internacional de Fotografia de Paraty – Paraty em Foco e coordena o Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.
Realização: Estúdio Madalena
Saiba mais
Veja mais informações sobre a exposição Veja mais informações sobre a exposição