Moradas do Brasil
Design expositivo: Janete Costa
As fotos de Rui Faquini – 60 imagens em painéis de 60 cm x 90 cm – mostraram o apurado universo visual das residências do Brasil, revelando um retrato do jeito brasileiro de construir e enfeitar suas casas, mesmo em condições humildes. Espaço de proteção, reunião e acolhimento da família, a moradia sintetiza a “alma” cultural do morador, traduzindo de forma concreta seus sonhos, suas perspectivas, sua condição social. Cada casa conta uma história: uma história do país, da região, da cidade, do bairro, da família.
Ao trocar a cidade de Morrinhos, em Goiás, por Brasília ainda em construção, no ano de 1958, Rui Faquini criou um vínculo muito especial com paredes se erguendo e as moradas já prontas. Trabalhando como boy da Novacap, a empresa que construiu a nova capital federal, ele observava com atenção o nascimento da cidade. Assim surgiu seu gosto pela arquitetura e também pela fotografia.
“Por mais de 20 anos viajei pelo Brasil inteiro, fazendo o registro de todo tipo de habitação”, contou Rui Faquini. “O brasileiro é muito criativo, cheio de imaginação, e mistura vários traços arquitetônicos, assim como mistura tantas raças”. Rui Faquini, um profissional que tem em seu currículo fotos de diversos povos e lugares do mundo, apresentou na mostra peculiaridades da casa cabocla, indígena, rural e urbana, registrada de norte a sul, com ênfase para o centro-oeste brasileiro.
Texto de apresentação de Maria Lucia Montes
“É preciso uma curiosidade inquieta e um vasto coração para se ter um olhar capaz de ver casas. Casas não são simples edificações, são projetos/trajetos de vida. Uma casa incorpora fiapos de memórias, fragmentos de desejos e temores, ecos de fantasias, acenos de aspirações e todo o arsenal de sonhos de quem nela habita. E literalmente a casa lhes dá forma, ao agenciar seu espaço em claro-escuro, abrindo-se em vãos de límpida luz, recolhendo-se em desvãos de aconchego ou até exibindo-se em espaços suntuários ao olhar de outrem, que nos re-assegura de um incerto prestígio. Casas são espaços povoados pela imaginação mais que pelo mobiliário que as ocupa. Minha casa, claro espelho de minha alma…
Por isso não é simples olhar casas. Menos ainda por estes Brasis afora. Casas dos outros, no espaço e na visão de mundo, pela imensidão do país continente. Casas de pobres por toda parte, como essa gente quilombola parecendo desgarrada na vida de um outro tempo, em território Kalunga. Ou casa da Casa Cor, encharcada de visões de futuro, tecnologia, conforto e ânsia de consumo. Entre os extremos, outras casas, da aldeia indígena à metrópole, passando por cidades sonolentas de um Brasil colonial. Colocar-se no lugar dessas vidas outras para enxergar suas moradas com os olhos de quem nelas vive. Com a alma e o coração disponíveis para poder, na diferença, reconhecer o que nos identifica, em nossa humanidade comum. Este é o generoso exercício do olhar a que se entrega Rui Faquini para nos revelar as moradas do Brasil.”
Maria Lucia Montes