MOSTRA | A CIDADE E SUAS MARGENS
Fotos: Mariana Chama
Em cartaz de 27 de setembro a 16 de novembro de 2008.
Com fotografias e vídeo de Elisa Bracher, a mostra registrou habitações da Favela da Linha, em São Paulo, e as casas de origem de alguns de seus habitantes, na região Nordeste do país: Alagoas, Bahia, Ceará, Fortaleza, Paraíba, Pernambuco e Piauí.
Obra sensível que permitiu uma leitura das vivências, emoções e sociabilidade dos indivíduos, as 70 imagens feitas em 2007, de cunho antropológico e social, captam momentos em que a comunidade revela suas singularidades e criatividade nas formas e cores das casas e barracos.
A mostra buscou refletir sobre as condições improvisadas de habitações na metrópole, que embora precárias e feitas com resíduos e materiais industrializados disponíveis, revelaram inventividade expressiva de soluções.
Também foi exibido um DVD (28:33) que documentou a visita de Elisa Bracher às famílias dos moradores da Favela da Linha em 16 localidades do Nordeste.
Confira registros da abertura:
A história
Durante os últimos cinco anos, Elisa Bracher manteve um vínculo intenso com os moradores da Favela da Linha, localizada no entorno do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), no bairro Vila Leopoldina, em São Paulo. Esse contato foi iniciado pela proximidade entre a comunidade e seu atelier, que passou a chamar a atenção dos habitantes da região. Assim foi criado o Ateliê Acaia, um espaço de convivência e atividades que, através do ensino da arte, auxilia crianças e jovens que vivem no local e suas famílias.
Devido ao crescente desenvolvimento imobiliário do bairro, os moradores da Favela da Linha, que ocupavam o espaço há cerca de 40 anos, passaram a sofrer grande pressão das construtoras e da administração pública para deixarem o local. Nesse contexto, a artista realizou um levantamento fotográfico das casas para comprovar a quantidade de famílias residentes, como parte de um movimento por melhores condições de habitação.
Favela da Linha, em São Paulo
O conhecimento profundo da artista sobre a técnica da gravura conferiu às fotografias uma aparência muito próxima às impressões gráficas, que ultrapassam meros registros documentais. O resultado é uma obra sensível, que permite extrair uma leitura das vivências, emoções e da sociabilidade dos indivíduos, mesmo sem que nenhum deles apareça nas imagens.
Além disso, a mostra trouxe um olhar incomum sobre as favelas, que normalmente são vistas como redutos de pobreza onde reina a homogeneidade de construções. Trilhando o caminho contrário, Elisa Bracher buscou registrar momentos em que a comunidade revela suas singularidades, exprimindo a criatividade de seus moradores nas formas e cores das casas e barracos.
O estudo realizado na Favela da Linha deu origem a um segundo ensaio fotográfico, feito meses depois, em sete estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Fortaleza, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Elisa partiu em busca da origem de alguns dos migrantes que habitam a comunidade, registrando suas moradias da mesma maneira. O resultado obtido, no entanto, é completamente diferente. As casas são mais íntegras e menos amontoadas, o que permite enquadramentos mais amplos e a revelação de lugares, e mesmo de paisagens.
Confira alguma das fotos expostas:
A terra natal
Comparando as duas séries, o curador Rodrigo Naves identificou um desdobramento do trabalho. “À fragmentação, precariedade e materialidade excessiva das moradias da Favela da Linha não subsiste nada que lhes dê guarida e amparo cultural”, diz ele. “Alheia a qualquer pretensão de erudição ou culturalismo, Elisa pôde ver com mais realismo como a unidade de nossa vida social se faz fundamentalmente de relações ásperas e descontínuas”.
A artista
Elisa Bracher (43) é escultora, gravadora e desenhista. Formou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde, desde 1989, passou a lecionar desenho e gravura. Conhecida por suas esculturas de grandes dimensões em madeira, metal e pedra, a artista despontou inicialmente como gravadora, em meados da década de oitenta. Desde então, sua produção de gravuras mantém um diálogo constante com seu trabalho escultórico.
Seus trabalhos estão expostos em diferentes locais públicos, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, a Fundação Cultural de Curitiba, o Museu Nacional de Belo Horizonte, o Museu de Arte Moderna de Salvador e do Rio de Janeiro, e o Essex University Museum, na Inglaterra. Elisa Bracher é representada pelo Gabinete de Arte Raquel Arnaud desde 2003. Pela galeria, realizou exposições individuais em 2003 e em 2006 e integrou a coletiva ‘Olhar Seletivo’, em 2007.
Curadoria: Rodrigo Naves e Elisa Bracher
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