PROGRAMAÇÃO

Vilanova Artigas

Vilanova Artigas

Mesa redonda com Júlio Artigas (arquiteto), Giorgio Giorgi Jr (designer), Irã Dudeque (arquiteto e historiador curitibano) e Giceli Portela (diretora da G Arquitetura) sobre as obras de Vilanova Artigas, considerado o fundador da escola paulista de arquitetura. Realizada paralelamente à exposição Artigas: a casa e a cadeira.
O designer e arquiteto Giorgio Giorgio Jr. apresentou o seguinte relato durante o debate:

“Conheço bem a dificuldade de concretizar qualquer coisa no Brasil e essa dificuldade costuma ser ainda maior quando se trata da preservação da nossa memória. Nesse sentido, os responsáveis pelas realizações aqui mostradas são merecedores dos meus melhores cumprimentos.

Antes de emitir um ou dois palpites suscitados pela cadeira Preguiça, uma palavra sobre a relação entre Artigas e o desenho industrial. Conhecemos a importância e o pioneirismo da seqüência de disciplinas de DI na FAU por ele proposta, bem como de sua defesa apaixonada do desenho enquanto desígnio; conhecemos, também, a sua abertura em relação à inovação técnica, entendida como fonte potencial de novas poéticas. Curiosamente, porém, à exceção da cadeira Preguiça, não tenho notícia de outra sua incursão no âmbito do projeto do produto

Assim, no meu ponto de vista, o legado que Artigas, na condição de engenheiro-arquiteto, deixa aos jovens designers, é o constante exercício de plena consciência e domínio técnico do suporte físico de seu raciocínio projetual, do suporte físico de sua arquitetura. Tal postura se assemelha à atitude dos raros designers que cultivam a consciência da relação entre material e processo produtivo, e que estruturam seus projetos a partir de descobertas que revelam possibilidades latentes nessa relação. A atitude dos raros designers que minimizam, e até dispensam, a figura do mediador / tradutor (e inevitável traidor) freqüentemente desempenhada pelo engenheiro de produção. Só para leigos e alienados isso é pouco; provavelmente, trata-se do mais claro divisor de águas entre projetar e viajar na maionese.

Outro legado, tão importante quanto o anterior, agora na condição de humanista, é a lição de que se desenha, sempre, para o outro. Na verdade, outros, muitos outros no caso da produção serializada. Quantos mais, tanto melhor. Dito isto, vamos nos espreguiçar um pouco. Alguém já disse que nada sai da cabeça sem que antes nela tenha entrado. Ou seja, o território da criação coincide com o da descoberta de associações inesperadas entre variáveis previamente conhecidas.

Sob esse ponto de vista, o uso da madeira compensada como suporte no projeto de móveis tem, no início do século XX, pelo menos duas referências poderosas: Alvar Aalto no que diz respeito à moldagem em curva, e Marcel Breuer, tanto na moldagem em curva quanto na utilização da placa plana, tirando partido de suas propriedades mecânicas e de sua estabilidade dimensional.

Particularmente nos experimentos de Breuer em 1935-36 parece situar-se a referência principal de alguns projetos desenvolvidos nos anos seguintes por profissionais do mundo todo (Carlo Mollino, Richard Neutra (*), Charles Eames) e, provavelmente, Artigas. Trata-se de um partido de desenho que privilegia a organização no plano ou seja, essencialmente bidimensional -, conseqüência tanto das características físicas do suporte, quanto das limitações do sistema de representação do projeto. Por outro lado, será esse mesmo partido o fiador do caráter fortemente arquitetônico da cadeira Preguiça: duas paredes laterais e um recheio. Sem dúvida, uma cadeira de arquiteto.

Finalizando, insisto no binômio suporte físico / sistema de representação que, a meu ver, merece particular atenção na leitura da Preguiça. No que se refere ao suporte, a madeira compensada levará, nos anos seguintes, um duro golpe desfechado pelo surgimento dos plásticos (grosso modo, equivalente ao impacto causado anteriormente pelo concreto armado no âmbito da arquitetura).

Quanto ao sistema de representação, desde a Renascença até o apogeu do Modernismo os projetistas serão, com maior ou menor intensidade, reféns da representação bidimensional do espaço (basta ver Geometry of Design, de Kimberly Elam, onde todo o requinte construtivo dos projetos selecionados sobrevive, quase que exclusivamente, na bidimensão).

Com o advento do computador, embora a tela seja plana e o mouse deslize, também, no plano, a investigação acerca das representações bidimensionais da tridimensão passa a ser um bocado facilitada, paulatinamente dando lugar a concepções geométricas de maior complexidade.

Em breve, com a democratização do sucessor tridimensional do mouse, associada ao desenvolvimento da representação holográfica (ou equivalente) da tridimensão, provavelmente terá início um patamar de complexidade bem mais invocado dos que nos foi dado conhecer até aqui.”

Giorgio Giorgi Jr.

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