Entre 2 de abril e 2 de maio o MCB recebeu 657 inscrições para eleger a principal peça de comunicação do Prêmio Design, o cartaz, que além de ser impresso e distribuído em todo o país também norteará a identidade visual de 2014. Sob coordenação de Gustavo Piqueira, a comissão julgadora do Concurso do cartaz contou com o olhar de profissionais que transitam pela fotografia, ilustração, artes plásticas, design de produto e design gráfico: Giorgio Giorgi, Guto Lacaz, Iatã Cannabrava, Maria Eugênia, Paulo Von Poser e Rafic Farah (confira os currículos).
Movido pelo desafio de apresentar um conjunto heterogêneo e representativo, o júri provoca a reflexão sobre o atual design gráfico brasileiro. Além do vencedor, também elegeu os finalistas, que farão parte da exposição 28º Prêmio Design, em exibição a partir de 27 de novembro no MCB, quando também será realizada a cerimônia de premiação.
O MCB agradece a participação e empenho de todos e anuncia as inscrições para o Prêmio, que vão de 21/7 e 18/8, e abrangem o design de produto, além da produção teórica em arquitetura e design.
TEXTO DO JÚRI
O cartaz de Vicente Pessôa possui inegável excelência gráfica, bem como possibilita desdobramentos interessantíssimos para as demais peças que comporão a identidade visual do 28º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira. Mas não foram esses os principais motivos que levaram a comissão julgadora a escolhê-lo como vencedor do concurso. Os motivos foram outros – muitos outros.
A começar pela abordagem original do tema, pois Vicente não se furta a tomar uma posição e, com isso, reafirma o cartaz como veículo transmissor de ideias, não apenas de informações. Que ideias são essas? Em primeiro lugar, temos, articulados, os três temas fundamentais do cartaz: Design, Brasil e 2014. Sim, porque, no cartaz escolhido, estamos no Brasil de hoje – e tal constatação não se dá pelo uso das cores da bandeira. O Brasil de hoje está na imagem um tanto torta e bastante desconfortável. No incômodo latente, na costura feita às pressas. Costura essa que também versa sobre design, num discurso que passa longe dos estereótipos habituais: nada de embalagens de papelão industrial, simulacros de texturas ou silhuetas de cadeiras. Em vez disso, dois bonecos de plástico – com alta carga simbólica – unidos por um retorcido elástico de borracha. E, se é fato que a “peça” resultante dessa combinação não apresenta o design como o desenvolvimento de um engenhoso/útil/belo produto final, também não há como não associá-la a um modo de produção improvisado, improvável: eis que surge, novamente, o Brasil. Claro, há de se argumentar que o improviso não é o único modo de se fazer design por aqui – de fato, não é. Mas, por outro lado, existe algum que seja? E, dentre as possibilidades, não vale optarmos por aquela que nos é tão emblemática?
O cartaz vencedor é, portanto, provocador. Provocador de discussões, de reações e leituras das mais diversas. Uma peça contemporânea – na temática e na execução – que se contrapõe, com vigor, à prática de um design gráfico inofensivo.
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Nesta edição, a comissão julgadora optou por não completar a lista com os tradicionais 10 finalistas – apenas outros 7 cartazes foram escolhidos como tal. O grande motivo foi que, das 657 peças inscritas, a maioria esmagadora limitou-se a propor ensaios tipográficos com o número 28 e, ainda que tal solução viesse se tornando regra nas últimas edições do prêmio, o júri a considerou como uma alternativa das menos interessantes, frente às inúmeras possibilidades – tanto de reflexão quanto de execução – que o desenvolvimento de um cartaz como esse propicia.
Não que um cartaz exclusivamente tipográfico seja um problema em si. Não é. Mas torná-lo hegemônico, sim. E um problema dos grandes. Por isso, a seleção dos finalistas optou por privilegiar a pluralidade – de linguagens e de ideias. Privilegiar aqueles que buscaram se libertar de uma suposta “fórmula vencedora”, bem como de uma visão dogmática e limitante das possibilidades de abordagem gráfica.
Essa pluralidade, porém, não excluiu por completo os cartazes tipográficos nem as explorações ao redor do número 28. Apenas pinçou aqueles que deram um passo além em termos de raciocínio gráfico. Como a peça feita pela dupla Felipe Ferreira Martins/Joelson Bugila que, ainda que apoiada nas informações textuais do cartaz, as desconstrói numa livre montagem de pisos multicoloridos. Ou os cartazes criados por Rodrigo de Azambuja Brod/Germano Hentges Redecker e Alexsandro de Souza que aferram-se ao número 28 como tema central, mas o fazem gravitar em torno de um Brasil popular que pode até ser questionado, mas não negado. Já um dos raros cartazes enviados a se utilizarem da linguagem fotográfica, o de Rubens Azevedo/Jorge Alma, surpreende pela associação entre uma preguiçosa moça dormindo nas areias cariocas, rodeada pelas categorias do prêmio a sobrevoarem-na, como mosquitos. Uma associação não muito imediata com o tema, compensada pela ousadia e busca pela quebra de paradigmas.
Por último, três trabalhos de estudantes. O primeiro deles – assinado por Marcelo José Tavares Silva/Mauricio Firmino da Silva Junior/Kamilla Emilia Dias Lopes – ainda que de leitura pouco complexa, tem o mérito de ensaiar algum diálogo com os temas centrais. Já os dois últimos, de autoria de Douglas Silvério Maria e Fabio Rodrigues, sem dúvida pecam por uma execução ainda bastante imberbe. Mas, por outro lado, buscam, cada um a seu modo, apresentar uma visão mais abrangente, um ponto de vista menos genérico. Daí a inclusão de ambos na lista, bem como a sugestão de que não se torça o nariz para nenhum dos dois: são discussões assim que cabe a este concurso suscitar. E, ao júri, premiar.