O Prêmio Design Museu da Casa Brasileira comemora sua 34ª edição neste ano. E que ano! Estamos em meio à pandemia e todas as nossas vidas e práticas foram atingidas pelo distanciamento necessário. Não foi diferente com o Prêmio.
Isto, obviamente, impactou todos os aspectos da premiação. De forma mais evidente, tivemos a cancelamento do evento em 2020, sendo ele retomado agora, após esse hiato. Apesar dos pesares, reagimos a estes problemas e cá estamos, com a grande notícia de que um dos mais importantes prêmios brasileiros de design volta a acontecer.
Se em tempos mais normais, no caso da categoria de produtos, o processo de avaliar os trabalhos inscritos – primeiro através de arquivos digitais e, segundo, presencialmente – em contato direto com os produtos já se mostrava difícil e nos enchia de dúvidas, neste momento, fomos obrigados a fazer as avaliações inteiramente à distância. Isso se coloca como um limitante? Com certeza. Mas a metade cheia do copo é a possibilidade que tivemos de dar ao nosso corpo de jurados um caráter mais abrangente no sentido geográfico, trazendo a participação de acadêmicos e profissionais do design de regiões fora do famoso eixo Rio-São Paulo. Um dos efeitos disto é que o Prêmio conseguirá atrair mais candidatos fora deste eixo, ampliando a visão que temos do design praticado em diversas regiões do país. Sem eventos agregadores dessa produção, ficamos com uma visão limitada do estado do design no país.
A incorporação de jurados de outros estados e até mesmo de colegas que estão fora do país, na categoria de trabalhos escritos, foi adotada desde a edição passada e os efeitos positivos já se apresentaram neste ano, com a inscrição de trabalhos de diferentes regiões do Brasil, principalmente na modalidade dos não publicados. Assim como na categoria de produtos, a tarefa de avaliar os trabalhos escritos de uma maneira totalmente virtual foi desafiadora. Primeiro, porque neste ano quase dobrou o número de trabalhos inscritos, reflexo de uma demanda reprimida devido ao salto do prêmio no ano passado e, segundo, todos nós jurados sentimos falta de pequenos gestos como apreciar fisicamente o volume, folhear o trabalho, trocar informações com os colegas na hora do cafezinho entre uma discussão e outra.
A manutenção deste evento se deve ao esforço e competência da equipe do MCB, que, apesar de todas as adversidades, soube estruturar e viabilizar o Prêmio nestes tempos complicados. Todos os nossos agradecimentos serão insuficientes.
Não podemos esquecer de agradecer, na mesma quantidade e volume, ao corpo de jurados, que em nome da promoção e valorização do design brasileiro, reservou tempo e esforço em suas rotinas profissionais para ajudar o MCB nesta tarefa. E essa tarefa interessa a todos, pois resulta não apenas na valorização e divulgação da produção nacional, mas também na crítica a esta produção: seus progressos, seus vieses e suas ausências. E, mais além, contribuindo aos questionamentos fundamentais à própria premiação, que caso não se autoquestionasse e auto avaliasse a cada edição, buscando ampliar-se e aprimorar-se, acabaria por se tornar irrelevante, assim como acontece com o próprio design.
Numa percepção que se mostrou generalizada entre os jurados da categoria produtos, está a falta de abrangência por parte dos trabalhos inscritos, que mostraram uma tendência à valorização da face mais superficial do design, com inscrições que majoritariamente privilegiam o belo objeto, o objeto voltado ao consumo de luxo, em total dissintonia com a realidade da esmagadora maioria da população brasileira. Somos obrigados a perguntar: onde estão os produtos e pesquisas voltados à solução dos problemas diários do brasileiro médio ou das populações carentes de quase tudo? Se este design existe, porque ele não se apresenta? Estariam estes produtores ocupados demais com sua sobrevivência em meio às dificuldades econômicas deste período? Estaria o Prêmio Design MCB se consolidando na percepção pública como um evento elitista? Estes são questionamentos cujas respostas determinarão a própria relevância futura deste prêmio. E devemos insistir neles, uma vez que sabemos, através da abrangência do acervo e eventos realizados, que não é essa a real vocação deste Museu.
E para além da importância para a produção de design material, o Prêmio Design MCB é um importante canal de difusão da produção intelectual do campo do design. As obras publicadas e não publicadas selecionadas para esta edição representam as múltiplas frentes de temas que vão da teoria, filosofia, artes aplicadas, resgates históricos e processos criativos à pesquisa aplicada. Uma diversidade de assuntos que instigam diálogos, reflexões e questionamentos.
Falar sobre a importância de se manter o Prêmio Museu da Casa Brasileira vivo e relevante daqui para a frente, por tempo ilimitado, mostra-se um esforço de obviedade, dada a sua longa história e importância devidamente registradas. A comunidade do design, academia e mercado, devem estar atentos e atuantes neste esforço de aprimoramento constante, participando de todas as maneiras possíveis e contribuindo para termos um prêmio que seja mais relevante a cada edição.
Nosso sincero obrigado ao júri e ao Museu da Casa Brasileira.
Gerson Lessa e Teresa Riccetti