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Sonhar o Mundo 2016 | Enfrentando nossos preconceitos

29.11.2016

Sonhar o Mundo 2016 | Enfrentando nossos preconceitos

Em celebração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de dezembro), entre 5 e 11 de dezembro os Museus da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo realizam a ação Sonhar o Mundo, com o tema “Enfrentando nossos preconceitos”.

Abaixo, texto da Analista de Pesquisa do Museu da Casa Brasileira sobre o Banco Trumai, presente na Coleção MCB:

Em algumas sociedades indígenas brasileiras, desde tempos imemoriais, são feitos bancos esculpidos em peças únicas de madeira. Em seu contexto original, essas peças, que podem tomar diferentes formas e grafismos, transcendem o caráter utilitário como assento, ganhando grande função simbólica, servindo de ponte entre o material e o imaterial em determinados rituais e servindo como demarcadores de hierarquias sociais.

Este exemplar, todavia, é de produção contemporânea, elaborado pelo povo TropiTrumai, alocados no Parque Indígena do Xingú, no Mato Grosso. Apesar da grande diminuição da produção de tais bancos – seja pela dizimação das populações indígenas, seja pelas transformações culturais pelas quais elas passaram –, algumas sociedades ainda os produzem, e mantêm, inclusive, seus atributos ritualísticos.

A beleza das formas e grafismo empregados nesses bancos ganharam grande apelo na sociedade não-indígena, sendo este um dos principais motivos pelos quais este exemplar acabou integrando nossa coleção. O Banco Trumai na Coleção MCB é geralmente valorizado por seus atributos estéticos, e as relações em sua produção são apropriadas como lições para o design contemporâneo, como uso consciente e sustentável da madeira e a inspiração nos elementos da fauna e flora tipicamente brasileiras.

Vale a reflexão sobre a quase ausência de artefatos da cultura indígena em instituições museológicas de perfil histórico, não diretamente ligadas às questões da Arqueologia ou da Etnologia. É preciso refletir sobre as formas como essa cultura é apropriada e, por vezes, romantizada dentro dos discursos expositivos, esvaziando-a de sentidos e reduzindo sua complexidade.

Este banco indígena é um bom exemplo de como os objetos podem ganhar novas camadas de significados e novos papéis simbólicos dentro do museu. Porém, isso não pode eximir as instituições de utilizar esses mesmo objetos como vetores de discussão e conscientização da sociedade a respeito dos desafios enfrentados pelos povos indígenas para sua construção identitária e para luta pela autodeterminação.

* Paula Coelho M. de Lima é Analista de Preservação e Pesquisa do Núcleo de Preservação, Pesquisa e Documentação do Museu da Casa Brasileira desde 2011. Doutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo, Mestre em Museologia (2014) e Bacharel em História (2008) também pela USP, atuou no Serviço de Objetos do Museu Paulista da USP entre 2005 e 2008, onde voltou a desenvolver pesquisa em 2013, através do Programa de Pesquisas nos Acervos da USP. No Museu da Casa Brasileira, atua junto ao acervo museológico, trabalhando no desenvolvimento de normativas e instrumentos de gestão das coleções, nas ações de conservação preventiva e no desenvolvimento de pesquisas para exposições, a destacar as mostras “A Casa e a Cidade – Coleção Crespi-Prado” e “Madeira e Móvel – Um olhar sobre a Coleção MCB” (2012).

 

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