EMEI DONA LEOPOLDINA

As questões que movem a parceria são complementares e emergem, na maioria das vezes, nos nossos encontros e possibilitam a invenção de um território comum de ações educativas

A parceria museu-escola que estabelecemos com a EMEI Dona Leopoldina favorece a realização de um processo de formação continuada dos educadores da escola e também das crianças. A dinâmica da parceria sempre aconteceu em comum acordo, com visitas mútuas em que os educadores do museu iam até a escola e as professoras e crianças iam ao museu.

Nós, educadores do MCB, valorizamos ações continuadas, para possibilitar experiências mais profundas e disparadoras de processos prático-reflexivos longos e duradouros. Deste modo, as questões que movem a parceria são  complementares e emergem, na maioria das vezes, nos nossos encontros e possibilitam a invenção de um território comum de ações educativas.

As trocas entre as equipes das duas instituições sempre foram muito instigantes para todos os envolvidos no projeto, e isto se deve às características da escola em questão, que vê a cidade como  um espaço educador, valorizando a arte e a cultura, além de viabilizar o acesso das crianças e dos professores a instituições culturais.

A parceria entre o MCB e a EMEI Dona Leopoldina acontece desde 2017. A busca compartilhada de aprofundamento do potencial inventivo da criança fez com que vários projetos fossem criados e realizados. O brincar, a natureza e a arte foram os universos de investigação durante todos os anos em que estivemos juntos, e se entrelaçaram de maneira a colocar sempre em primeiro plano a criança, sua potência e liberdade.

Na EMEI Leopoldina, as crianças brincam e aprendem ao ar livre. Os espaços são amplos e favorecem o movimento do corpo, tão necessário na primeira infância.

Já no primeiro ano, os encontros se revelaram inspiradores de ideias e realizações: crianças e  professoras passaram a desenvolver curadorias conjuntas para a realização de exposições de desenhos, pinturas, poemas, instalações e objetos tridimensionais produzidos pelas crianças para que pudessem dar visibilidade às suas criações e  apreciar seus trabalhos e aprendizagens.

Foi desse trabalho conjunto que nasceu o sonho das crianças e de suas professoras  em ter uma casa na árvore e um observatório de pássaros na escola.  O Museu da Casa Brasileira contribuiu para que a ideia se concretizasse. O Educativo do MCB, junto a outros departamentos, mobilizou-se na elaboração do projeto, a partir de conversas e desenhos de casinhas feitos pelas crianças. Nos encontros de formação, foram trabalhados elementos da casa brasileira, para que as professoras pudessem alimentar os projetos das crianças,  favorecendo a  incorporação desses elementos à proposta. O projeto recebeu o Prêmio Territórios Educativos – Instituto Tomie Ohtake. A premiação refere-se ao projeto “Escola e Museu: uma experiência possível e necessária”.

A escola como espaço coletivo e cooperativo é um valor que se evidencia quando propostas de convívio cotidiano entre crianças de diferentes idades, além de experiências com vários adultos são frequentes. Este princípio norteador da Leopoldina e do MCB fez com que encontrássemos nos ateliês para toda a escola uma estratégia que colocasse em prática este valor. Os ateliês, abrangendo diferentes linguagens artísticas, esteve presente continuamente ao longo dos anos, e aconteceram como estações organizadas em diferentes lugares da área externa da escola, com materiais diversos e propícios a experimentações e pesquisas em desenho, pintura, escultura, construção, instalação, colagem, gravura, entre outras linguagens, a depender dos projetos desenvolvidos na escola. Com o espaço assim organizado, as crianças circulam de acordo com seus desejos e podem escolher com liberdade o que fazer.

O longo tempo de trabalho coletivo e colaborativo entre a  equipe pedagógica  da escola e o educativo do museu possibilitou aprofundamento da compreensão sobre a importância do contato da criança com a natureza. A terra foi o primeiro elemento explorado pelas crianças e investigado pelas professoras , a partir de propostas educativas. Mexer na terra, para dela extrair pigmentos e cultivar alimentos foi um dos caminhos percorridos. Mais adiante, o ar foi objeto de pesquisa. Observar as nuvens em movimento constante, ora lentos e ora mais velozes, de acordo com as correntes de ar. Natureza, arte e poesia continuaram a ser o norte desta parceria.

Depois de um ano com a parceria interrompida, em 2021 o educativo do museu entrou em contato com a escola para retomar este trabalho tão frutífero para todos. Retomamos inicialmente no modo remoto, dando continuidade ao trabalho com elementos da natureza e potencializando a ocupação dos espaços externos da escola,  para fortalecer o plano de retorno das crianças depois de um longo período de isolamento devido à pandemia.

Para aprofundar conhecimentos sobre os elementos da natureza, ficou acordado que alguns educadores das duas instituições fariam o curso “A criança e os quatro elementos” (via Zoom), ministrado por Gandhy Piorski, com o objetivo de juntos encontrarmos um caminho a ser trilhado  durante este período tão desafiador para a educação e para a  cultura, para compreender mais a fundo a natureza da criança e a importância do seu contato com a natureza. O contexto que estamos vivendo também nos mostrou o quanto estas questões são urgentes, que precisamos refletir e apoiar as crianças que ficaram por um longo tempo recolhidas.

Foi Maŕcia, diretora da escola, que estuda e reconhece a necessidade da criança estar em contato constante com a natureza, que propôs que nos tornássemos um grupo de estudos, para que juntos pudéssemos ativar  os espaços da terra, da água, do ar e do fogo que foram criados na escola. Estes espaços propícios à exploração dos quatro elementos podem ser vistos também como um enraizamento dos ateliês. Estações fixas para explorações diversas, que emergem do diálogo entre crianças e adultos. As crianças brincam pelas estações  cotidianamente e a observação aguçada dos educadores que podem instigar as crianças com gestos sutis que possibilitem um mergulho constante e cada vez mais profundo em suas investigações.

Durante o mês de novembro, planejamos conjuntamente um retorno presencial. Tomamos todos os cuidados e seguimos todos os protocolos de segurança para que pudéssemos estar novamente corpo a corpo. Que alegria e vitalidade! As equipes empolgadas e ao mesmo tempo transformadas por um período tão delicado que todos vivemos. A visita da equipe do museu à escola, para reconhecimento dos espaços, foi surpreendente. Ver pelos corredores e salas marcas da nossa parceria é emocionante e nos dá mais estímulo para continuar.

Agora, além dos espaços para exploração dos quatro elementos, o parque da escola conta com mais algumas  casinhas de madeira cobertas para dar continuidade aos ateliês ao ar livre, atendendo também a necessidade de realizar, sempre que possível, propostas ao ar livre.

O respeito pela criança e sua natureza imaginativa foi o eixo que mobilizou este último mês de parceria. Os ateliês propostos pelo Educativo MCB foram inspirados no livro “Brinquedos do Chão”, de Gandhy Piorski. Todos eles com elementos da natureza, na natureza e com a natureza, porque nós somos natureza. No espaço da terra e da água, propusemos uma “Cozinha de artista”, lugar em que o brincar e a arte se encontram. As crianças prepararam comidinhas e poções, que depois viraram tinta para pintar. No espaço do fogo, fizemos uma mandala coletiva, que foi acesa com música e dança. Por todo o parque, o vento e o ar que derrubaram folhas, sementes, frutos, troncos foram explorados. As crianças coletaram os elementos e os organizaram no próprio chão, cobrindo a sombra de uma grande árvore. E foi o tempo (e o vento), que levou a sombra para outro lugar. Por que sempre podemos imaginar. Com as professoras, trabalhamos a imaginação como tema e a documentação como caminho para dar visibilidade  às potencialidades das crianças, entendendo a documentação como um processo de criação.

 

“Para melhor alcançarmos a criança, devemos compreender que a imaginação é um mundo. É um quarto reino, da natureza, como diz Bachelard, integrando os outros três reinos, – mineral, vegetal e animal. A criança, portanto, advém desse mundo imaginal, está confiada a esse universo.” Gandhy Piorski

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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