1° Lugar
Autor: Vicente Pessôa
O cartaz de Vicente Pessôa possui inegável excelência gráfica, bem como possibilita desdobramentos interessantíssimos para as demais peças que comporão a identidade visual do 28º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira. Mas não foram esses os principais motivos que levaram a comissão julgadora a escolhê-lo como vencedor do concurso. Os motivos foram outros – muitos outros.
A começar pela abordagem original do tema, pois Vicente não se furta a tomar uma posição e, com isso, reafirma o cartaz como veículo transmissor de ideias, não apenas de informações. Que ideias são essas? Em primeiro lugar, temos, articulados, os três temas fundamentais do cartaz: Design, Brasil e 2014. Sim, porque, no cartaz escolhido, estamos no Brasil de hoje – e tal constatação não se dá pelo uso das cores da bandeira. O Brasil de hoje está na imagem um tanto torta e bastante desconfortável. No incômodo latente, na costura feita às pressas. Costura essa que também versa sobre design, num discurso que passa longe dos estereótipos habituais: nada de embalagens de papelão industrial, simulacros de texturas ou silhuetas de cadeiras. Em vez disso, dois bonecos de plástico – com alta carga simbólica – unidos por um retorcido elástico de borracha. E, se é fato que a “peça” resultante dessa combinação não apresenta o design como o desenvolvimento de um engenhoso/útil/belo produto final, também não há como não associá-la a um modo de produção improvisado, improvável: eis que surge, novamente, o Brasil. Claro, há de se argumentar que o improviso não é o único modo de se fazer design por aqui – de fato, não é. Mas, por outro lado, existe algum que seja? E, dentre as possibilidades, não vale optarmos por aquela que nos é tão emblemática?
O cartaz vencedor é, portanto, provocador. Provocador de discussões, de reações e leituras das mais diversas. Uma peça contemporânea – na temática e na execução – que se contrapõe, com vigor, à prática de um design gráfico inofensivo.