ARTIGO “ORATÓRIOS – ARTEFATOS DE DEVOÇÃO DOMÉSTICA” POR WILTON GUERRA
Quando pensamos nos oratórios, patrimônio que compõe a cultura material associada ao catolicismo, logo relacionamos esses bens as igrejas. No entanto, as residências depois dos templos religiosos, também foram espaços essenciais para as práticas religiosas. O culto doméstico remonta as civilizações antigas (orientais e clássicas), egípcios, gregos e romanos, que cultuavam suas divindades em altares ou pequenos espaços dentro das residências.
Já a origem dos oratórios data do final da Idade Média, mais precisamente o século XV, período em que apenas a nobreza Ibérica tinha acesso a esse artefato e, estava associado a obediência ao catolicismo. Com a Inquisição intensificando a perseguição aos judeus e mouros, os católicos e sobretudo os “cristãos novos”, ou os que ainda resistiam a conversão completa, com receio das punições da Santa Sé, passaram a ostentar em suas residências, como símbolo de sua conversão ao catolicismo, os oratórios.
Assim, ao contrário do que muitos de nós pensamos, a existência dos oratórios nunca esteve circunscrita aos templos religiosos, pelo contrário, sua presença teve maior evidência nas residências. No Brasil, isso ocorrerá desde as primeiras centúrias coloniais, motivado pela forte tradição do catolicismo sincrético português, o diminuto número de igrejas e o isolamento das comunidades. Fatores que acabaram por condicionar em muitas regiões as práticas religiosas populares ao ambiente doméstico (urbano e rural), muitas vezes longe da doutrina católica.
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* Wilton Guerra atua como gerente do Núcleo de Preservação Pesquisa e Documentação do MCB (área responsável pelo acervo) desde 2006. É mestre em Museologia pela USP (2015), bacharel e licenciado em História pela PUC-SP (2003) e técnico em museus pelo Centro Paula Souza (2007). Desde 1998, é pesquisador do Museu da Casa Brasileira (MCB). Em 2000, organizou três volumes (Arquitetura, Objetos e Equipamentos) da coleção “Equipamentos, Usos e Costumes da Casa Brasileira” (Imprensa Oficial). Em 2005, coordenou o projeto “Acervo Virtual – Equipamentos, Usos e Costumes da Casa Brasileira” (Arquivo Ernani Silva Bruno), que disponibilizou integralmente o Fichário para consulta no site da instituição. Nos últimos anos, participou do desenvolvimento de exposições como: “Renata e Fábio – A Casa e a Cidade” (2006); “Coleção MCB” (2007); “A Casa Brasileira do MCB – Memórias de um Acervo” (2008); “A Casa e a Cidade – Coleção Crespi-Prado”, “Madeira e Móvel – Um olhar sobre a Coleção MCB” (2012) e “Coleção MCB – novas doações” (2016). Em 2015, na coordenação do Eixo Protocolos, do Comitê de Política de Acervo da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, desenvolveu juntamente com a equipe de três outros museus (Museu da Imigração, Museu do Café e Museu Índia Vanuíre) o primeiro Protocolo para Descrição de Mobiliário do Estado.