ARTIGO “À MEIA-LUZ: ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL DOMÉSTICA E O ACERVO MCB” POR ERICA DE OLIVEIRA
Foto: Lucas Candido
As transformações ocorridas nas formas de iluminação artificial se articulam tanto a questões relativas às necessidades humanas mais básicas (por exemplo, o aquecimento), quanto à urbanização, à domesticidade, à decoração, ao desenvolvimento do capitalismo, aos estímulos e transformações dos sentidos, às certas concepções de higiene e saúde, à ciência, dentre outras. A ampliação da capacidade de iluminação impactou a vida noturna, a dinâmica nas casas, a percepção humana, a economia, mas também outras tecnologias e outros objetos. Nosso objetivo, no entanto, é modesto. Não pretendemos tratar da descoberta do fogo à invenção da eletricidade. O Museu da Casa Brasileira possui em seu acervo onze castiçais, dois candeeiros, três luminárias fixas no edifício e dois candelabros, todos do século XIX; duas luminárias do século XX e duas já do século XXI; e uma espevitadeira com bandeja também do XIX. Em consonância com esse pequeno conjunto, abordaremos as formas de iluminação nas casas oitocentistas até a virada do século. Nesse intervalo, as ruas das cidades começam a ser iluminadas, as noções de domesticidade e conforto passam a organizar a casa burguesa, a iluminação a gás é introduzida, e coexiste uma maior diversidade de tecnologias para iluminação. Abordaremos a relação entre as formas de iluminação disponíveis e as dinâmicas prática da casa, a percepção humana dentro do ambiente doméstico, mas também a conexão entre objetos e tecnologias, ou seja, a associação entre os objetos no processo de iluminação e o impacto nos demais itens do espaço.
Iluminar
A facilidade com que hoje apertamos um interruptor para acender ou apagar a lâmpada de um cômodo em nossas casas ou para ligar uma luminária em cima de um criado mudo ou mesa de estudos, ou então as muitas ocasiões em que se quer precisamos realizar um gesto ativo além de nossa simples presença física para que as lâmpadas sejam ativadas por meio de sensores de presença, oculta na automatização a cadeia de ligações entre as usinas hidrelétricas, as empresas que exploram o sistema, as redes de cabeamento, os fios conectados dentro do interruptor, ou a tecnologia que identifica nossa presença no ambiente.
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*Erica de Oliveira é analista do Núcleo de Preservação e Pesquisa do Museu da Casa Brasileira desde 2017. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo, Bacharela em História (2014) e Técnica em Museologia pelo Centro Paula Souza (2008). Pesquisa a relação entre materialidade e a interioridade humana, com destaque para temas relativos ao espaço doméstico. Atua desde 2008 nas áreas de documentação e gestão de acervos museológicos e com produção de exposições. No Serviço de Objetos do Museu Paulista foi também membra do Comissão Técnica Administrativa e do Conselho Diretor do Museu como representante discente. Além disso, foi pesquisadora da Comissão da Verdade da Universidade de São Paulo como bolsista do projeto Fapesp A USP durante o regime autoritário: formas de controle e resistência na Universidade de São Paulo, 1964 – 1982.